GTFI: produtores, varejo e indústria se reúnem para discutir propostas de monitoramento
As soluções para os problemas ambientais da cadeia da pecuária podem surgir de um lugar pouco esperado: dos próprios produtores. E justamente para avançar na construção de uma agenda positiva que estiveram reunidos nesta quarta-feira (25), no Golden Ville Hotel, em Marabá (PA) pecuaristas, produtores rurais, representantes do varejo, indústrias e organizações ambientais.
O encontro já é o quarto do denominado Grupo de Trabalho de Fornecedores Indiretos (GTFI) que segundo definição de Pedro Burnier, gerente de projetos de cadeias produtivas da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, busca implementar soluções que sejam viáveis para o monitoramento da carne. O desafio maior é buscar visões de consenso entre todos os setores.
Mauro Armelin, diretor executivo da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira afirma que o encontro reúne os agentes responsáveis pelo setor produtivo justamente para fugir do discurso mais fácil de apontar culpados e soluções milagrosas pouco eficazes. “Não existe um culpado e não existe uma bala de prata. O que nós temos que fazer é trabalhar o criador (de gado), o frigorífico, o varejista e a indústria, todos juntos falando e rumando ao mesmo lugar, que é o desmatamento zero”.
A pecuária ocupa 80% das áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia, além de responder pela maior parte dos casos de trabalhos análogos ao de escravidão no país. E ainda que mais de 340 frigoríficos tenham assinado TAC da Carne, termo que estabelece uma série de critérios ambientais para a compra do gado, as denuncias não cessaram.
Operações como Carne Fria e Carne Fraca, da Polícia Federal e Ibama, respectivamente, apontaram que gados de áreas embargadas ainda estavam chegando aos consumidores finais, sendo repassados para fazendas regularizadas. Ainda não existe um consenso de ferramenta que garanta o monitoramento completo da cadeia da pecuária e o produtor rural, até pouco tempo, realizava apenas o controle do gado da própria fazenda deixando no escuro a origem.
Por isso, segundo Mauro Armelin é fundamental o controle do “fornecedor do fornecedor”, como chamou para ilustrar a presença dos produtores que fazem a cria, recria e engorda e vendem para as fazendas de engorda – os chamados indiretos, que só então vendem aos frigoríficos. “Chegou o momento de enfrentarmos o desafio e fazer o monitoramento completo da cadeia da pecuária, pra chegar até o bife vendido pelos mercados”, afirma.
Readequação do produtor
Se ainda não existe um consenso de qual a melhor ferramenta ou mesmo de regras que devem ser seguidas para todo o maior prejudicado é o pecuarista e principalmente o pequeno produtor, já que possui mais dúvidas do que soluções para seus negócios.
Jordan Timo conhece bem o desafio. Além de representar a Apoio Consultoria, também presta serviços na área de regularização ambiental e monitoramento socioambiental, no Pará. Para ele, além dos desafios de monitorar os produtores, atualmente, a recolação dos produtores tem sido o maior desafio. “A readequação de fornecedores é o que mais empata a cadeia de pecuária no bioma Amazônia, principalmente por falta de estruturas dos órgãos ambientais e falta de condição do produtor para conseguir se regularizar e atender o que o mercado está querendo como carne legal e carne sustentável”, afirma.
Essa necessidade não passou despercebida pelas grandes redes de varejo que passaram a incluir políticas de readequação e monitoramento para que o produtor não seja excluído, sem antes a oportunidade de regularizar. “A nossa discussão é como usar os bancos de dados, os dados, as ferramentas com inteligência e responsabilidade”, afirma Virgílio Paculdino, Diretor Safetrace que esteve representando o Grupo Pão de Açúcar durante o evento.
Virgílio afirma que o Grupo atua para participar da solução dos problemas e não simplesmente transferir o problema. “A ideia não é excluir. É trazer esse produtor que está fora da adequação de novo pra cadeia [produtiva]”. Ele ressalta, no entanto, que quando os acordos de melhorias e readequação não são descumpridos pode haver exclusão definitiva.
Outra rede varejista de peso que também se comprometeu, desde 2010, a ter uma cadeia de alimentos sem desmatamento ilegal da Amazônia foi Walmart. O compromisso assumido pela rede é valido para todas as lojas nos 27 países. E para que isso ocorra, um dos princípios da rede é ajudar a desenvolver a cadeia e participar de grupos de engajamento, como a iniciativa do GTFI, por exemplo.
Exemplos práticos
Mas na prática: produzir sem desmatar é possível? Para Mauro Lúcio, pecuarista da fazenda Marupiara, no Pará, não só é possível como lucrativo. Em sua fazenda ele utiliza as ferramentas de monitoramento dos animais para melhorar a gestão da sua fazenda. Com a possibilidade de acompanhar o crescimento, ganho de peso e desenvolvimento de cada animal, Mauro Lúcio afirma que consegue ampliar seus ganhos identificando os animais mais lucrativos.
Fonte: Amigos da Terra – Amazônia Brasileira