Opinião: O falso dilema para manter a caixa-preta
Leia o artigo de Mauro J.C Armelin, diretor executivo da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira sobre a transparência dos dados do Cadastro Ambiental Rural.
Nas últimas semanas a Confederação Nacional da Agricultura – CNA – e outras organizações do setor agropecuário brasileiro vêm alegando que os dados do Cadastro Ambiental Rural, conhecido pela sigla CAR, precisam ser mantidos sobre sigilo porque coloca em risco a segurança nacional ao dar informações aos países concorrentes sobre nossa produção e potencialidades. Depois do debate esfriar um pouco fica ainda a sensação estranha de escutar, e continuar escutando, um argumento como esse vindo de organizações de classe tão politizadas e antenadas com a tecnologia e demandas dos mercados consumidores.
A agricultura hoje se beneficia de uma parafernália enorme de novas, e velhas, tecnologias que estão envolvidas desde a previsão do tempo até a agricultura de precisão que usa satélites para traçar a rota de seus maquinários em tempos de plantio e colheita. Tudo isso feito por empresas brasileiras e internacionais, mas usando ferramentas de coleta de dados que não ficam sob nosso controle.
E são essas mesmas tecnologias que nos permitem ter imagens com precisões métricas do solo, seu uso ou o que o cobre (vegetação natural, plantios florestais ou agrícolas e pastagens) e, até mesmo, o que se encontra no sub-solo. Ou seja, saber dos limites das propriedades não altera em nada a capacidade dos agricultores estrangeiros, e concorrentes, conhecer nossa produção, produtividade e potencialidades. Essas informações também já estão disponíveis através de várias formas como, por exemplo, através quantidade de insumos agrícolas comercializados, sendo a maior parte por empresas multi-nacionais, dá para se saber o potencial produtivo de algumas commodities.